Editorial da Revista Asas, 06 de Junho de 2007

Discussion in 'Warbirds Portunhol' started by nilton, Aug 20, 2007.

  1. nilton

    nilton Well-Known Member

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    45
    Tenho ouvido muito, nestes últimos dias, as manchetes sobre a (in)segurança de vôo no espaço aéreo brasileiro, a fragilidade (ou precariedade?) de nossas comunicações aeronáuticas e outros problemas. Um desses notícias de TV, na última semana de maio, mostrou com ?manchete? uma falha de comunicação entre o controle de terra e dois jatos comerciais, na área de São Paulo (capital), que levou um deles à uma manobra anti-colisão. De lá para cá, falou-se que a Anatel (agência brasileira de comunicações, fiscalizadora desse setor) teria lacrado os transmissores de duas rádios-pirata na área metropolitana de São Paulo.
    Bem, tudo isso tem sido falado com muito alarde...
    Acendendo um dos meus havanas, porém, trago agora as recordações de um grande amigo meu, jornalista, que trabalhava num dos grandes jornais paulistas, em fins dos anos 1990. Este companheiro, numa de nossas conversas regadas a um bom scotch, mostrou-me uma reportagem que fizera em 1997 (dez anos atrás!). Nela, ele contava que o então Ministério da Aeronáutica deslocara uma aeronave especial para São Paulo, onde a mesma fez diversos vôos, com o objetivo direto de ?mapear? as transmissões de rádios-pirata que agiam na área, interferindo especialmente nas comunicações aeronáuticas ligadas aos aeroportos de Cumbica e Congonhas.
    O trabalho dos militares deu origem a um documento intitulado ?Transmissões em FM ? Interferências nos Sistemas de Navegação e de Comunicações do Serviço Aeronáutico? e, em anexo, à uma lista detalhada de 138 (!) rádios-pirata detectadas, sendo que os militares pesquisaram não apenas a freqüência destas, mas incluíram na lista os nomes, endereços e (em alguns casos) até o telefone! Na primeira página do documento citado, explica-se que a pesquisa fora realizada dentro de ?um trabalho interministerial conjunto e coordenado com a atuação de órgãos do Ministério das Comunicações, Ministério da Justiça e Ministério da Aeronáutica?.
    Bem, obviamente, a Aeronáutica não podia (e não pode) lacrar transmissores de FM. Daí a interação com os Ministérios das Comunicações e da Justiça. Olhando os documentos nas mãos de meu amigo jornalista, o relatório e a listagem, posso dizer que a Aeronáutica com certeza fez sua parte. Na ?conclusão? do primeiro, pude ler que embora alguns transmissores fossem lacrados pelo órgão competente, ?alguns dos transmissores apreendidos voltam a funcionar mediante autorização judicial?. E, mais adiante, ?cabe aos Ministérios da Justiça e ao Ministério das Comunicações as medidas de ordem legal e judicial?. Bem, são avisos feitos há dez anos atrás!
    E nada foi feito.
    Por que?
    Perguntei isso ao jornalista. Ele sorriu e foi mostrando para mim anotações suas, feitas na lista, junto às identificações de algumas rádios-pirata. Uma delas era da Igreja Deus é Amor, outra da Igreja do Deus Vivo, e outra da Assembléia de Deus ? na época, ele apurara que, das 138 rádios, pelo menos 14 eram de seitas evangélicas. De uma dessas, o jornalista ouvira que ?temos 94 deputados (estaduais) trabalhando à nosso favor?. E, de fato, o que não faltava às rádios (de todas as nuances, não só as religiosas) eram apoios políticos (de todas as facções), pois muitas das ?piratas? (na verdade, quase todas) se autodenominavam ?comunitárias?. Meu amigo me disse, aliás, que o apoio político era fácil de se entender, pois as rádios garantiam ?nichos eleitorais? e, como eram clandestinas, sequer respeitavam as normas da Lei de Propaganda Eleitoral.
    Não sem uma certa amargura, meu amigo contou-me que, concluída a reportagem, entregou-a ao seu editor ? e ela nunca foi publicada pelo jornal...
    Fico pensando.
    Será que a atual ?CPI do Apagão Aéreo? vai convocar juízes e promotores públicos que atuavam em São Paulo em 1997? Será que vai convocar o ministro das Comunicações da época? Enfim, será que alguém do Judiciário e das Comunicações vai ser chamado para explicar porque, há dez anos atrás, havia já uma lista de rádios-pirata identificadas, que se constituíam em perigo de vida aos aeronautas e usuários do transporte aéreo ? e NADA FOI FEITO???
    Eu não sei.
    Acho que estou ficando velho, pois minha capacidade de compreender imbecilidades fica cada vez mais fraca. Assim como minha capacidade de ?engolir? demagogias e idiossincrasias.
    Vou tomar um gole de scotch e apagar este havana.
    Pra mim, chega!

    Cel.-Av. R/R Lontra

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